O NELPP propõe-se a tecer relações entre os princípios teóricos advindos das investigações da linguagem, simultaneamente, propõe-se a criar formas de “escuta” das questões que perpassam o ensino e a aprendizagem da língua materna.
Sobre a primeira proposta, justificamos que aproximar convergências e divergências teóricas em um espaço onde a língua portuguesa é norteadora contribui para que a pluralidade, inerente aos estudos linguísticos, deixe de ser apenas constatada nas atividades acadêmicas e torne-se integrada. Aprendemos com o mestre genebrino, Ferdinand de Saussure, “o Saussure” para seus íntimos e não tão íntimos leitores, que “o ponto de vista cria o objeto”. No Curso de Linguística Geral ([1916] 1999), o CLG, o pai da Linguística se valeu da perspectiva estruturalista e daí criou a célebre definição: a língua é um sistema de signos. Depois aparecerem as linguísticas saussureanas, os estudos funcionalistas, aconteceu a virada pragmática e, consequentemente, mais e mais enfoques enriqueceram as possibilidades investigativas da língua e pluralizaram suas definições. Uma analogia se faz necessária: com a riqueza teórica dos estudos linguísticos, é como se tivéssemos diferentes janelas para olhar para o mesmo objeto: a língua. Cada janela nos mostra uma versão diferente, algumas deixam o objeto mais preciso, estruturado, outras o deixam mais dinâmico, vale dizer, variado, há janelas que salientam suas regularidades e variedades fonológicas, morfológicas, sintáticas, diferentemente, outras destacam os sentidos desse objeto, ou sua relação com o cognitivismo, ou ainda as possibilidades didáticas no ensino desse objeto. Ao abrirmos janelas, um dia encontramos a perspectiva que mais nos agrada, que mais nos informa sobre o que é a língua, mas não podemos esquecer que embora a posição escolhida melhor explique e embeleze a paisagem, há outras janelas, que propiciam visões importantes, que nos capacitam a aprofundar a reflexão sobre a linguagem. Na formação acadêmica, expomos nossos alunos à diversidade teórica da área de Letras com o intuito de que integrem esses saberes em suas práticas docentes. Tal a dificuldade de relacionar conhecimentos aparentemente tão díspares, tal a separação entre as “janelas”, não seria o caso de oportunizar essa integração? Também não temos de criar mais ocasiões para que o aluno identifique a janela de onde quer enxergar a língua e as práticas que dela decorrem: a pesquisa e o ensino?
Sobre a segunda proposta, concernente aos estudos linguísticos aplicados ao ensino do português, algumas ponderações são necessárias tendo em vista que o compromisso da Linguística com a educação é uma temática por vezes polemizada. Faraco (2003), quando indagado sobre os desafios da Linguística no século XXI, observa que nesse campo do conhecimento ainda partilhamos pouco nossas aflições e resultados de pesquisa. Concordamos com esse posicionamento, principalmente quando observamos que a escola é um dos espaços que vê os muros da academia como intransponíveis, como barreiras que abrigam um tipo de saber de difícil compreensão. A escola indaga o caráter aplicado das pesquisas acadêmicas.
Sobre essa aplicação, no NELLP respondemos: almejamos um espaço de socialização, de partilha, que descreve, explica em suas investigações, mas jamais prescreve, dá receitas, como se os professores fossem aplicadores.
Geraldi (1997), ao avaliar sua própria trajetória acadêmica em atividades com professores da rede básica, alerta que cursos de treinamento, reciclagem, atualizações às vezes vêm destacar o quanto falta ao professor para ser um profissional. Certos cursos parecem empenhados em mostrar aos professores que não sabem o que ensinam. Tais cursos, acrescentamos, colocam-se como “salvadores” de alguns, de poucos: os cursistas. Geraldi ressalta que os cursistas, após assistirem 40 horas, ainda repassam tais informações em 2 horas de reunião com os colegas.
Tais relatos de experiências nos elucidam quanto ao que não pretendemos no diálogo com os professores da rede básica e ajudam-nos a delinear nosso posicionamento sobre a Linguística e a Educação. Reproduzindo Faraco (2003), pensamos a Linguística como “uma espécie de fundo aperceptivo a partir do qual o educador possa iluminar os problemas que sua prática educacional tem de enfrentar” (p. 68). Em Geraldi (1997), também encontramos um aporte: “não há pontes entre teoria e prática, a práxis exige construção permanente, sem cristalização de caminhos, na práxis alteram-se os sujeitos envolvidos e percepções sobre o mesmo objeto” (XXVIII).
CABRAL, Loni Grimm. Linguística e ensino: reflexões para a prática pedagógica da língua materna. Florianópolis: Insular, 1998.
GERALDI, João Wanderley. Portos de Passagem. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
RASIA, Gesualda dos Santos; CAZARIN, Ana. Ensino e aprendizagem de línguas. Ijuí: Ed. Unijuí: 2007.
SAUSSURE, F. Curso de Lingüística Geral. Organizado por Charles Bally e Albert Sechehaye. São Paulo: Cultrix, 1999.
XAVIER, Antonio Carlos; CORTEZ, Susana (Orgs.). Conversas com linguistas: virtudes e controvérsias da Linguística. São Paulo: Parábola Editoria, 2003.
Profª. Renata Silva
Profª. Renata Silva