Balbúrdia: casa temporária de palavras, significadas em diferentes “cômodos”, estilizados à revelia. Ao chegarmos nessa casa, fomos para o quintal lavar palavras sujas. Em outro dia, saímos cautelosamente debaixo do edredom quentinho e abrimos o armário onde moram nossos monstros. Descobrimos que poderíamos eliminar medos estourando palavras! Em nossa casa nuances do tempo apareceram, com dizeres, fecharam portas de salas de lembranças e abriram frestas por onde pudemos espiar o futuro. Teve um dia em que pintamos a casa de comédia e enchemos de riso suas paredes. As palavras só saíam de bocas risonhas! Um ladrão de liberdades chamado politicamente correto tentou terminar com as festas de palavras que aconteciam às sextas-feiras. Graças! Esqueceu que era ladrão e brindou a falta de censura. Na história dessa morada, o amor, o heroísmo, o consumo, a infância, a fé pediram um dia de hospedagem. Recebemos todos e emprestamos lençóis tecidos de linguagens. E tem gente que sempre frequenta essa casa e tudo vê com olho de poeta e tudo escreve com mão desobediente. A porta está entreaberta para acolher esses adoradores de palavras. O Silvio, um cara criado por quero-queros, sempre chega, vai na dispensa, engole palavras e sai expirando poesia... que estão guardadas no cômodo“silvanydades”, onde sempre tem espaço para guardar mais literaturas dessa gente que vive a balburdiar.
Profª. Dra. Renata Silva
Balbúrdia 15 (Palavra e criação)
O TEMPO
O tempo da vida
é o tempo da intensidade. Renato, o “Russo”, dizia que os bons morrem jovens!
Acontece também com grupos: Será que Os Beatles seriam “Os Beatles” senão
tivessem terminado como terminaram?
Uma dupla
dinâmica, ou melhor, “dicotômica”, resolveu criar um projeto. Um projeto feito
por pessoas para as pessoas, e isso é mágico, divino, é dar vida a vida.
Ninguém se atreveu a dizer essa palavra, mas o Balbúrdia pode morrer!
Mas o que é morrer? Alguém por acaso esqueceu aquela pessoa que já foi?
Eu nunca esquecerei do Balbúrdia Tempo, do Heróis (tão importantes pra mim),
menos ainda de Tristão e Isolda (Balbúrdia Amor) e seus risos soltos... Dessas
duas mentes “brilhantes”... que farão nascer novos projetos, “crias” cheias de
DNA balburdiano, porque o tempo agora é tempo de criação!
Sílvio Nunes
Letras 1ºSemestre
A janela do meu quarto
Era uma janela mágica
Mostrava o céu
Depois chapéus
Seios fartos
Automóveis
E o chão...
Ah como eu queria
Morar numa casa sem paredes
Pra pendurar quadros
Com pinturas do céu...
Ouvi um cavalo passando!
Pocotó, pocotó, pocotó...
Sílvio Nunes
Letras 1ºSemestre
Balbúrdia 13 (Música)
Devem ser entre 11 horas da noite de hoje
E 1 hora da madrugada de amanhã...
Um som de automóvel entra pela garagem
Chave e fechadura
Abrem a porta
Passos...
Maçaneta...
Um breve ringido
E um aconchegante silêncio...
Minha canção de ninar!
Pra acordar só amanhã
Ou hoje...
Sílvio Nunes
Letras 1ºSemestre
Balbúrdia 12 (homem animal)
ALFABETO SÍMIO
Homem: “Coçar o nariz”
Animal: “Sorrir”
E pra avisar
Que o Homem entrou na floresta
Todos os macacos sorriram...
Sílvio Nunes
Letras 1ºSemestre
O
poeta não entendia por que quando brincavam de ser animais ninguém queria ser a
vaca. O gato, o cachorro, o leão, o pássaro. Nunca a vaca, tão digna ela. Nem se
importa, está mais disposta a alimentar, produzir. Ser sagrada. A vaca não ruge
feroz. A vaca não é a melhor amiga do homem. A vaca não é bonita como a gata. A
vaca pasta...E dai? A vaca é vida. A vaca anuncia o inicio do dia. Caminha
lentamente para a ordenha, não de maneira submissa. Altiva em sua importância,
de quando em quando abaixa a cabeça arrancando algum verdinho bem suculento, lá
vai ela, cedendo o leite de seu rebento. Abundante. Também anuncia o entardecer,
lentamente, se junta ao rebanho, aproxima-se da beira das casas com um olhar de
melancolia. Vai deixando um rastro... marcas de cascos e bostas para a festa dos
passarinhos. Sublime e profana com suas divinas tetas de amor. Foge a qualquer
padrão, mocha ou chifruda, balançando sua cola em lânguida flagelação. Ela é uma
heroína! Imagina! Seca, o açougue é sua destinação. Se aproveita até os ossos. E
se querem ofender uma mulher...chamam:VACA! Ah! As vacas são tão coloridas!
Mesmo que inseminadas demonstram tanto amor a vida!
Maria Elia Martins
Letras 9º Semestre
Vejo um cursor pulsando na minha frente e nesse jogo dos signos devo misturá-los na dose certa. Nem mais, nem menos. E lá vão eles empurrando o cursor pra frente transformando o imaterial, o imaginário, em um rascunho de mim. Escrever, falar, somente os humanos tem coragem suficiente para tanto! Penso que tudo e todos têm esse poder (animais, vegetais, coisas...), mas só os Homens se atrevem! Já te contei que ouvi numa noite dessas meu par de chinelos conversando? Viu só? Haja audácia pra escrever isso! São tantos de nós que andam por aí falando menos que meus havaianas! Falam, falam, falam... O que “devem” falar! Mas e as palavras que precisam falar? Nada! Ficam guardadas e vão “calcificando”. O silêncio delas é tão cheio de palavras gastas que não conseguimos ouvir! Quantas palavras precisavam calar?
Olhe pra cima! ↑
Esse é meu verdadeiro CPF, meu
código de barras, minha identidade! Expurguei o que sou! Um rascunho? Sim! Mas
antes um rabisco que uma folha em branco, um cursor pulsando... vivo... e só...
O que meus chinelos disseram?
Palavras que precisam calar...
Sílvio Nunes
Letras 1ºSemestre
VOZES DO
MEDO!!! (Balbúrdia 2)
Piscando os olhos
E cumpro penitência
Sob o olhar de pedra
Dos anjos
Enquanto me limpo
Escondo a sujeira
Atrás da lua
E o meu medo
Vira beleza
Os arrepios...Os arrepios mais fortes
São quando
Cruzamos um espelho
E não nos vemos
Não durma
Feche os olhos
E finja
Porque nos sonhos
Não se pode gritar
O medo movimenta
E paralisa
É a chave
Liga/desliga
Do Homem
E quando for deitarNão olhe a posição
Dos seus chinelos
Os habitantes debaixo da cama
Sempre os utilizam
Não existe fera mais
horrenda
Que o monstro do ralo
Toma chá de gente
Com sua boca cabeluda
Arrota moscas de
cemitério
E na cegueira da espuma
Olha pra nossa bunda
Cantamos cantigas
E escorrem sonhos e
fantasias
Que ele engoliu...
Sílvio Nunes
Letras 1ºSemestre
E quando Eva
foi até a árvore do Bem e do Mal, não era pra comer a maçã. Ela foi atraída
pelo brilho de um objeto: um relógio!
E vendo que
era meio-dia, teve fome e comeu o fruto proibido!
Desde esse dia
ficou o Homem condenado a ser escravo das horas: acordar, trabalhar, comer,
dormir, sorrir, chorar, morrer... Tudo com hora marcada!
E o demônio
não para de dar corda...
Mas,
No intervalo
de um espirro,
Os artistas
voltam ao Paraíso!
Descobri isso
escrevendo um poema...
Sílvio Nunes
Letras 1ºSemestre
Balbúrdia 4 (Humor)
PALHAÇO
Hoje guardei
meu nariz de palhaço no bolso e saí às ruas.
Nunca me senti
tão invisível!
Vi máquinas,
vestindo sapatos, sacando dinheiro em caixas eletrônicos.
Olhares frios
atravessavam o sinal vermelho sem serem atropelados.
Só um cão me
conheceu!
Açougues,
farmácias, hospitais, supermercados, postos de gasolina, todos têm o mesmo
nome.
Acabei por
cochilar numa sala de aula...
Acordei com o
barulho de algumas crianças rindo de um velho caduco que, na praça, jogava
pipoca pras pombas (detalhe: não havia pombas).
Comprei um
saquinho,
Sentei ao lado
dele,
E ficamos ali,
Esperando...
Sílvio Nunes
Letras 1ºSemestre
Balbúrdia 5 (Militância)Letras 1ºSemestre
Nunca tinha
reparado o quanto os muros crescem
Eu subi num deles
com tanta facilidade!
E com uma mão
só
A outra catava
limões
Encontrei uma
marca antiga de joelhos ralados
Lá em cima me
sentia maior que a cidade
A resistência
na descida foi grande...
Os muros pareciam
engolir o mundo
E enquanto me reequilibrava
Um menino
chupava laranjas...
Sílvio Nunes
Letras 1ºSemestre
Balbúrdia 6 (Politicamente Correto)
Sou porteiro num prédio, mas
gosto de dizer que sou “pessoeiro”, a ideia de cuidar de portas não me encanta.
O morador da cobertura que
chamarei de PC (Politicamente Correto), pois assim fica “politicamente
correto”, acorda todos os dias às sete da manhã, abre os olhos, veste-se, toma
café, olha-se no espelho, pega sua maleta, tira seu carro da garagem, vai
trabalhar e nunca me deu bom dia!
O morador do subsolo não tem hora
pra aparecer, nunca sei se dormiu, dia desses passou por aqui com um sapato de
cada cor, gravata, cueca e nada mais (acho que ele não tem espelho), uma vez
tomou café comigo, pega seus dedos, tira sua bicicleta de rodas quadradas do
pátio, e vai sabe-se lá pra onde (dizem que é artista), e até de olhos fechados
me dá bom dia!
É como eu digo: pra alguns sou
porteiro, pra outros “pessoeiro”!
Sílvio Nunes
Letras 1ºSemestre
Balbúrdia 7 (Fé)
Era uma vez 3 irmãs que moravam
perto da floresta.
Chamavam-se Confiança, Esperança
e Fé.
Confiança era muito levada,
achava que podia fazer tudo sozinha. Certo dia embrenhou-se na mata, não deu
outra, perdeu-se! Aflita a menina pensou: - Preciso ter esperança, pois vou
achar o caminho de volta! Lembrou então de gritar pela irmã: - Esperança,
Esperança, Esperança...
A irmã, que era muito bondosa,
entrou mata adentro e correu de encontro aos gritos de Confiança. Esperança correu
tão rápido que seu corpo misturou-se com o verde da mata!
A menina Fé, sozinha, sentada num
pequeno banquinho, ouvia os gritos, mas não enxergava nada além dos óculos
fundos de garrafa!
Contam que a Confiança sozinha perdeu-se. A
Esperança ficou verde. E a Fé precisa de óculos novos...
Sílvio Nunes
Letras 1ºSemestre
TESTE PRA SABER QUEM É SEU HERÓI
Esta noite tive um sonho ruim
E acordei chorando
Abri os olhos pra escuridão
Por instantes senti o vácuo da vida
Desaprendi tudo que sabia
E quando tudo voltou
Instintivamente gritei:
Pai! Pai! Pai!
Sílvio Nunes
Letras 1ºSemestre
Balbúrdia 9 (Amor)
AMOR SEM DOR
O Sol entrou
Pelo buraco da fechadura
Atravessou todas as frestas
Sem preencher o vazio
Fez visível a poeira
Que me veste
E tatuou uma caveira na parede
Onde andará você?
Que levou meu segredo...
Sílvio Nunes
Letras 1ºSemestre
Sílvio Nunes
Letras 1ºSemestre
"GOSTO MUITO DE TE VER, LEÃOZINHO, CAMINHANDO SOB O SOL..."
'Eu era o rei, vou ficar na montanha mais alta. E eu tinha uma espada e uma
capa vermelha.’
Balbúrdia 11 (INFÂNCIA)
HISTÓRIA PRA UM BRINQUEDO
“Enquanto as crianças dormem
Os ossos crescem
Rasgando fantasias”
A ampulheta me contou uma história:
Um velho disfarçado
Caminha invisível
Pelas ruas da cidade
Calças erguidas em suspensórios
Sapato que ringe
E numa maleta
Dessas que não se usam mais
Guarda um bilboquê
E um leve sorriso
De quem nunca cresceu...
Sílvio Nunes
Letras 1ºSemestre
"GOSTO MUITO DE TE VER, LEÃOZINHO, CAMINHANDO SOB O SOL..."
Disse a voz decidida do menininho
moreno de cabelos esvoaçantes que brincava com outras duas crianças no campinho
perto de casa.
Eu caminhava
apressada, mochila nas costas, mãos nos bolsos da calça, cabeça baixa e a testa
franzida talvez, tamanhas preocupações e aborrecimentos esses dias vêm trazendo.
Foi quando ouvi a frase mais bonita e melancólica daquele dia em que o mesmo sol
que iluminava o Menino Rei, outrora iluminara as fantasias da mulher que ainda
sonha os mesmos sonhos de infância, há tanto guardados num baú.
Tem muito tempo
desde a última vez em que fiz de um campo meu reino. Naquelas tardes lindas, meu
único pesar era despedir-me do sol, depois de brincarmos horas a fio. Noite
chegando e a mãe gritando meu nome, que era hora de entrar em casa, que da noite
os bichos são donos... Lembrar esse cenário distante é sentir a mesma alegria
inocente de um dia novo que não tardava a chegar, a mesma coragem de enfrentar
os medos da noite sabendo que o mundo seria meu ao amanhecer. Era tão simples!
Era... uma vez.
Olhando no espelho
agora, pergunto o que restou, senão esses olhos d’água caídos. Onde se
esconderam os heróis que me habitavam? No velho baú de sonhos? Esperam por mim,
como o sol que me chama toda tarde?
Ao Menino Rei quase
fiz reverência, não fosse o relógio me apressando, que o tempo não é mais
meu.
Dani Rodales
Letras
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